quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Teresa Silva - 3º trabalho de reflexão filosófica

A problematicidade dos valores constitui, desde tempos remotos, um obstáculo à vida em sociedade e à harmonia entre os seres humanos. Diariamente confrontamo-nos com trocas de impressões entre amigos ou colegas, e indignamo-nos tanto quando concordam connosco ou estão totalmente contra as nossas ideias. Como é possível termos precisamente a mesma noção de beleza, relativamente àquele quadro? Como pode alguém ser tão distinto de mim, no que diz respeito à pena de morte? Questões como estas colocam-nos “um ponto de interrogação na testa” e conduzem-nos a um raciocínio profundo na tentativa de descobrir a natureza dos valores.
O ser humano, como pessoa, tem um olhar avaliativo e crítico sobre a sua realidade. Desde cedo, preferimos cores, apreciamos objectos, julgamos pessoas e, sobretudo, tomamos decisões. A nossa vida e a nossa forma de viver é orientada em função dos valores que consideramos, e tudo aquilo com que nos deparamos é previamente valorado. Consoante a nossa hierarquia de valores, que varia de acordo com os nossos padrões culturais, históricos e pessoais, agimos e fazemos escolhas. É, portanto, impossível ao ser humano viver indiferente ao mundo exterior, já que está na sua natureza atribuir valores ao que observa.
Contudo, esta noção tão familiar é uma das mais problemáticas para o ser humano. Ainda que valorize quase que “inconscientemente”, o Homem não consegue explicar se estes valores têm uma natureza subjectiva ou objectiva. Serão eles fruto da sua deliberação e reflexão interior, ou existirão independentes das pessoas e exteriores à mente humana?
Para responder a este problema de tão elevada importância, tanto a nível de compreensão pessoal, como no âmbito social, surgiram diferentes teses. Para apoiar o Subjectivismo Axiológico desenvolveu-se o Psicologismo, ou seja, a ideia de que os valores resultam de vivências pessoais. A maneira de encarar o mundo e de o valorizar de cada pessoa, difere portanto do que enfrentou ao longo da vida e a sua “opinião” será moldada de acordo com a sua experiencia e presença na Terra. Assim se explica a enorme diversidade de valores atribuídos aos mesmos objectos e situações, dado que pessoas com “percursos” diferentes “verão o seu mundo de “cores” diferentes.
Porém, esta “solução” não dá um desfecho à demanda da verdade pelo ser humano, no que diz respeito à natureza dos valores. Não é possível explicar, através do Psicologismo, a concordância de valores em épocas históricas diferentes, ou em povos que nunca comunicaram. Se dependem do sujeito para existirem, como podem os mesmos valores atravessar séculos e oceanos, sem que o homem os tenha transportado consigo?
Não se dando por satisfeito com o subjectivismo e duvidando da capacidade valorativa da sua mente, independente do meio exterior, o Homem procurou outras respostas no Objectivismo Axiológico. Assumindo, portanto, que os valores são autónomos relativamente ao ser humano e que lhe existem exteriormente, surgiu a ideia de que os valores são qualidades das coisas: o Naturalismo. Neste sentido, os objectos, situações e pessoas estão associados a certos valores que os caracterizam e que não diferem. Assim, a unânime crença em certos valores, ou seja, a enorme concordância em tantas valorações, é explicada pelo Naturalismo, uma vez que, se os valores são qualidades das coisas, então todos nós devíamos atribuir a cada coisa o mesmo valor.
No entanto, mais uma vez, esta tese também reúne algumas falhas. A defesa de que os valores já estão contidos nas próprias coisas, sobre a forma de qualidade, não consegue justificar os desentendimentos entre as pessoas nas valorações. Além disso, se os valores são qualidades objectivas das coisas, exteriores à mente humana e que pertencem ao mundo material, porque é que não conseguimos observá-los?
Sem desistir da sua “caça” ao conhecimento, o Ontologismo é mais uma tese que tenta resolver o problema da natureza dos valores, com base no objectivismo. Esta “resposta”, criada por Platão, defende que os valores são ideais que existem independentemente, quer do sujeito humano, quer das coisas em geral, ou seja residem imaterialmente no “mundo das ideais”. Neste mundo, a nossa alma teria tido a possibilidade de contemplar os valores, antes de reencarnar num corpo físico. Assim, em vida, o ser humano recordava de forma confusa estas ideias, originando as divergências nas valorações. Contudo, não é possível provar a existência de um mundo imaterial, para além do físico, facto pelo qual o Ontologismo se apresenta como a tese mais “fraca” e menos credível.
Por fim, uma última tese tenta explicar a natureza dos valores: o Relativismo Axiológico, que estabelece um outro conceito, o de homem como ser social, inserido num determinado contexto. Esta nova solução para este problema filosófico, universal, problemático, intemporal e radical, defende que o valor não é pessoal, nem objectivo, mas sim o resultado de uma apreciação histórica, cultural e social. Algo partilhado entre indivíduos inseridos numa mesma época, com uma mesma cultura e de uma mesma sociedade.
Dado que os valores acompanham as culturas das sociedades humanas, são relativos aos espaços em que as mesmas se encontram, no entanto alguns valores acompanham o ser humano desde sempre, ainda que aplicados de diversos modos, pelas diferentes sociedades. Assim, estes não seriam “exclusivos” de uma determinada época, civilização e cultura, apenas assumiriam “definições” distintas consoante o contexto em que eram utilizados.
Tanto o subjectivismo, como o objectivismo e o relativismo tentam explicar a natureza dos valores, contudo ainda nenhuma das três teses encontrou uma resposta sem objecções. Constituindo um problema, cuja “chave” será a solução a muitas dificuldades e conflitos sociais, a sua problematicidade tem elevadas proporções e ocupa grande parte do tempo dos filósofos. Saber se os valores têm origem na mente humana, resultam de vivências pessoais e são independentes de qualquer obstáculo físico, se são apenas qualidades das coisas ou se “vagueiam” num mundo imaterial paralelo ao nosso, ou se não passam de uma relação com o contexto em que o homem, como ser social, se insere, mudaria radicalmente a forma das sociedades e de cada pessoa encarar o mundo e de tomar decisões. É por isso tão importante continuar a navegar pelo oceano inquieto e imprevisível dos valores, não desistir de procurar o horizonte de verdade e conhecimento ao longe no céu nublado, em busca do bem comum e de um mundo melhor e mais justo!

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